Em julho de 2003, Congonhas amanhecia como sempre: passageiros apressados, malas rodando, voos sendo chamados no alto-falante. Mas naquele dia, o guichê da Vasp virou palco de um espetáculo que ninguém jamais esqueceu.
Alexandre me ligou ainda escuro:
— Fredi Jon, me ajuda a fazer minha história decolar hoje? Quero pedir a Bárbara em casamento no trabalho dela.
Bárbara era atendente da Vasp, conhecida pelo sorriso doce que acalmava passageiros nervosos. Chegamos cedo com nosso trio: eu no violão e voz, a cantora e o saxofonista pronto para encantar o aeroporto inteiro. Afinal, se era pra pedir em casamento, que fosse inesquecível.
Quando Bárbara chegou ao guichê, de uniforme azul-claro e crachá no peito, pronta para mais um dia de embarques e overbookings, nos viu e congelou. Alexandre foi se aproximando devagar, tremendo como passageiro de primeiro voo.
O aeroporto, acostumado a filas e anúncios, parou para assistir. Passageiros deixaram malas no chão, atendentes de outros guichês esticaram o pescoço, seguranças sorriram. Bárbara levou as mãos ao rosto, já chorando antes mesmo de entender.
Quando Alexandre se ajoelhou com a caixinha de veludo azul na mão, disse:
— Barbara, hoje eu não vim comprar passagem, vim te pedir algo muito mais valioso: me dá um embarque só de ida pro teu coração? Casa comigo?
Foi como se o saguão inteiro tivesse ganhado asas. As pessoas aplaudiram, alguns gritavam “aceita logo!”, e até o piloto que passava bateu palmas rindo. Ela disse “Sim!” com lágrimas no rosto e abraçou Alexandre forte, enquanto entregávamos flores e bombons para ela. O sax improvisou um I Will Always Love You ali mesmo, arrancando risadas e mais aplausos. Foi mágico, simples assim.
Mas o dia não acabou ali. Enquanto nos despedíamos do casal, no novo embarque que agora assumiram juntos,.uma senhora elegante se aproximou:
— Vocês podem me ajudar? Meus amigos de infância muito queridos estão chegando de viagem agora. Vi vocês e me apaixonei com a idéia de serenata, se não tiverem compromisso nesses 30 minutos quero receber todos com música.
Nem pensamos duas vezes. Lá fomos nós, trio afinado, para o desembarque doméstico. Quando o grupo apareceu no portão, cansados do voo, nos viram tocando “Amigos para Sempre”. Houve gritos, abraços apertados, lágrimas de saudade.e o olhar de d. Carmem,, a contratante, carregado de lembranças. Passageiros ao redor se emocionaram também, como se fôssemos uma trilha sonora coletiva de reencontros e afetos.
Naquele dia, Congonhas não foi apenas aeroporto. Virou templo de amor, de amizades que resistem ao tempo e de gestos que provam: a vida é curta demais para não surpreender quem amamos.
No fim, entre malas despachadas e voos anunciados, o que fica são esses momentos. Porque o verdadeiro embarque não é no avião, mas nos corações que temos coragem de conquistar todos os dias
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